terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ser ou não ser


Estou num dia de ser ou não ser, de estar ou não estar, da dúvida que não termina de me assolar com as suas agulhas de vidro. Sem entusiasmo e deixando que o tédio me agonie, penso num gelado, num coktail formidável ou naquela peça de fruta fora de época...mas assim que realizo todos estes desejos efémeros, volto a sentir que não sou, que não estou, que me perdi. Como um rebuçado de mentol que nunca acaba ou uma voz que nos domina segundo a segundo, grito: Estou farta. Farta.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Meco


Uma estrela, mais uma e outra iluminam a estrada acidentada que me leva até ao íntimo dos meus desejos. Chegar.

A noite já caiu e o fumo das lareiras estagnou em frente à lua, a namorá-la num jogo de vai-e-vem sem fim. Cheiro aquele desenho com o prazer espalmado no meu rosto de quem instantaneamente é transportada para a doçura da infância, as palavras meigas, as festas ao colo da avó e as reuniões familiares aquecidas pelo fogo. Ali permaneço enquanto fecho os olhos e deixo o corpo rodar à volta de um eixo imaginário que é a única coisa que me prende ainda à terra. A ficção.

Solitária mas com a sensação de ocupar espaço e deixar a presença fluir por outros corpos, deambulo por entre as poucas portas abertas que deixam escapar palavras soltas. “É a atitude dela que me deixa assim”, “Já nada é como era”, “Olha aqui era onde eu costumava sentar-me a contar pedrinhas, uma a uma”. No final de uma noite de sábado catapulta-se o lado b da vida, as entrelinhas que só revelamos naquelas ocasiões.

Aqui o meu ser é livre. Apodera-se de mim este ambiente de paragem no tempo e voo tão longe quanto posso na memória dos vivos e dos mortos. Amanheço-me.