segunda-feira, 28 de junho de 2010


Subsidio-dependência cultural

Não há como não pronunciar esta palavra sem um engasgo, um sentimento de vergonha, um incómodo qualquer que cresce e não pára de criar comichão, irritação, incompreensão. A criar uma empresa na área da cultura, que não depende directamente dos subsídios mas que vive, de alguma forma, desses mesmos subsídios. E este é um facto deprimente, frustrante, enraivecedor.

Quando é que será possível verdadeiramente acreditar que os milhares de facebookianos que se movem entre concertos, teatros e salas de exposição podem ser suficientes para alimentar a cadeia da cultura, tal como o micro-ship, inserido num rectângulo de plástico preto e com teclas à mistura se transforma de repente num bem a quem todos dão bem mais valor do que o seu verdadeiro valor.

Quem afinal pode valorizar melhor a cultura do que o seu consumidor? E quem menos o faz, para além da ditadura numérica dos espectadores e a inultrapassável sensação de estarmos a seguir um rumo que não escolhemos, a quem alguém "deu valor" no nosso lugar?

Vivemos nos tempos em que a liberdade é uma verdadeira armadilha. Porque na nossa vontade de impormos ao mundo uma forma de estar que nos é própria, que regula a nossa vida com parâmetros, pontos de referência e aspirações para o nosso futuro e o do nosso mundo, vemos essa mesma liberdade posta em causa por uma deficiência e debilitação prolongada de um mercado que, com um valor ironicamente "inestimável" é e sempre foi o primeiro a ser aniquilado em tempos de crise.

Um dia que acaba em fúria cultural.

domingo, 27 de junho de 2010



48 horas, 2 dias, 2 noites, 2 visitas, 200 páginas de um livro, 2000 mergulhos numa água transparente. O número 2 onde só 1 corpo se deitou, o número 2 a acompanhar as paragens do olhar e as caminhadas até ao mar. Nunca acreditei nos números, mentem. Quem diz que uma pessoa só é igual a 1? São estas e outras coisas na vida que me levam verdadeiramente a acreditar que o lado humano, é bluff, humano claro, que esconde os verdadeiros animais que somos. Ou não estaria eu na melhor companhia durante este fim-de-semana...

(Imagem de Joaquim Cardoso, obrigada pelo empréstimo)

segunda-feira, 21 de junho de 2010



Depois de um fim-de-semana em que as bandeiras a meia haste sobrevoavam Lisboa e em que a festa se fez a marchar na rua, em que as noites terminaram frias entre palcos de música electrónica e em que as palavras de tchekov ecoaram no silêncio de um palco minimal, tudo isto dá vontade de calar e sentir, sem contar.

O excesso da vida dá nisto: a morte vivida sem pausas. E quando passa o tempo do luto, da morte de um momento, da morte de uma palavra, já passou e já foi.

E assim me calo.