quarta-feira, 19 de março de 2008

Homenagem



Não sei, não sei mesmo que força me leva a isto...mas tem que sair, até porque está na hora de fechar mais um ciclo na minha vida. Com a mente totalmente aberta a voltar ao zero e recomeçar tudo, tudo de novo e com vontade de conquistar o mundo.

Tudo isto só chegou porque o que sou hoje é uma mescla de aprendizagens que não teriam sido tão poderosas e fortalecedoras se eu não me tivesse cruzado com pessoas que me viram sempre...como uma pessoa.

Redudante, mas é isto que faz a diferença: as pessoas cruzam-se, descruzam-se, viram costas, abraçam-se, beijam-se, envolvem-se, mentem, cobram, criticam, rebaixam, choram no ombro umas das outras, enternecem, entregam-se. E tudo isto vale a pena.

Porque na multidão sobressaem uma, duas, três, quatro, cinco pessoas que nos vêem como tal.

Homenageio hoje todas as pessoas com quem me cruzei uma, duas, três vezes e que não se descruzaram mais de mim.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Quem me compreende? Vila Franca de Xira



Ainda com o sabor de uma viagem recente a aguçar a vontade de sair de Lisboa, descobri uma pérola de cultura portuguesa, o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.

A primeira pergunta foi a da ignorante que não recordava já o que era o neo-realismo, por muito que aquela denominação soasse a recente e a uma aproximação a autores como Émile Zola ou Máximo Gorki.

Pois não me enganei: fiquei estarrecida com todos os nomes da cultura e política portuguesas que participaram neste movimento censurado pelo regime salazarista e feliz por conhecer muitos deles através da escrita.

Mas fiquei mais feliz ainda por ver esta frase, a prevalência do conteúdo, numa exposição que se intitulava Batalha pelo Conteúdo. Finalmente há quem me compreenda. Na nossa sociedade plena de formas, aparências, virtualidades, há quem queira relembrar que tudo isto não faz sentido se não se der um sentido à vida...

Por isso agradeço a Alves Redol, Augusto Abelaira, Carlos Oiveira, Álvaro Cunhal e a todos os que lutaram por uma sociedade com conteúdo por terem...criado conteúdo, debate, discussão. Que é tudo isso o que dá sentido à minha vida.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Revolução Astrológica ou thoreauiana?



Achava a astrologia uma matéria duvidosa até ter pessoas perto de mim que me fizeram acreditar no contrário, com todos os limites que uma sartriana convicta impõe a si própria... Por isso acredito na influência dos astros como acredito nas influências do tempo, dos ambientes humanos por onde passo e dos caminhos e das opções que tomamos e que determinam certas coisas na nossa vida.

Mas há momentos em que tudo parece revolucionar esta minha lucidez.

Não foi por acaso que fui despedida e que fui aos Açores. Não foi por acaso que vivi nesta última semana experiências inéditas, mudanças radicais na minha forma de estar na vida e que surgiram novos projectos que vão de encontro a sonhos por concretizar.

Sabia que este dia ia chegar, o dia em que a pessoa se torna naquilo que realmente é, só não o esperava tão cedo...Julgava-me como uma adulta que no foro pessoal era um caos de emoções e no foro profissional uma indecisa em permanência e agora tudo aponta para um novo ciclo na vida.

Com dúvidas e incertezas menos devastadoras, com uma maturidade que nos afasta da tentativa de criar problemas onde eles não existem. Uma estabilidade criativa e livre.

Por tudo isto estou, sou feliz.

quarta-feira, 12 de março de 2008

De regresso

Quem procura encontra...e eu procurava apenas a simplicidade que a natureza nos oferece sem pedir nada em troca, entregar-me a ela e deixar que ela me guiasse para descobrir as suas maravilhas...

Aconteceu tudo isto em São Miguel mas como eu sou fraca e por muito que, ao longo destes três dias, tenha tentado afastar-me de seres humanos, foram mais uma vez eles que acordaram aquele bicho que faz de mim um animal social emaravilhado por explicações antropológicas e históricas da vida. Por isso mostro-vos pessoas, e não paisagens...


Os romeiros percorrem quilómetros e quilómetros da ilha, de capela em capela, para pedirem a Deus que não volte a repetir-se um terramoto como o que houve no século XVI. Por isso, cantam baixinho, como quem não quer acordar as entranhas da terra, mas sim acalmá-las. 5 séculos de gerações se sacrificam pelo bem de toda uma população. É no mínimo extasiante.


Mosteiros, uma vila a noroeste de Ponta Delgada, que para além de ser a capital do polvo assado (que é de chorar por mais), é a vila onde sem pudor se consegue melhor ver como a maioria dos açoreanos daquela ilha verdadeiramente vive (em Rabo de Peixe, senti-me como uma intrusa numa terra atingida pela pobreza a todos os níveis...O Bloco de Esquerda esteve lá, escreveu muito nas paredes...mas foi só isso...). Não é apenas pobreza, é também simplicidade, vida de aldeia à beira-mar. Os brinquedos são de ontem, as gargalhadas também. Não há nada mais profundo do que ver crianças a experimentarem a vida em directo e não através de ecrãs que virtualizam a realidade.


A viagem não podia ter sido mais perfeita. Assentei ideias, escrevi muitas outras, deixei que os dias fossem comandados pela minha vontade e pelos pequenos paraísos que se foram cruzando no meu caminho. Conheci pessoas especiais, vivi momentos especiais. E agora de regresso, estou de novo com a força que precisava para encarar esta nova fase da vida pelos...cornos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Despedida para despedir-me


Uma semana inteira sem escrever não por falta de tempo mas por vontade de dar tempo ao tempo para que a ira, a frustração e vontade de esganar alguém não se tornassem no novo tema do meu blog...

Fui sempre ao encontro de grandes desafios na vida, sem modéstias à parte. Parti de Portugal à procura de mim, à procura de respostas e, como quem já partiu também sabe, só encontrei interrogações e mais dúvidas nessa caminhada. Gostei tanto que voltei a partir até ao dia em que a adolescente virou semi-adulta e compreendeu que a paz, a satisfação diária e os pequenos prazeres da vida estavam onde eu sempre tinha vivido e não na loucura dos confrontos culturais e da agitação eminente que se sente em viagens prolongadas.

Voltei porque acreditava ser aqui que iria reencontrar-me...e não me enganei.

Mas como nem tudo são rosas e como nem todos os objectivos de vida se atingem em simultâneo (e ainda bem!), tudo até estava a correr bem quando fui assolada no início desta semana com uma verdadeira desilusão profissional.

Sim, fui despedida, sim, estou feliz por estar livre de trabalhar com uma pessoa medíocre, por dentro e por fora. Mas o que mais me preocupa é ter perdido de vez a vontade de trabalhar por terras lusas, de dar o litro por este país. De sentir que não é o profissionalismo nem o empenho que são valorizados, mas sim o medianismo e a falta de carácter. E podia estar aqui horas a dissertar sobre todas as conclusões a que cheguei esta semana...E esta viagem só agora começou.

Fui até ao Luso e agora vou para os Açores. Não há nada como sair deste rectângulo para recuperar energias e deixar fluir novas ideias para o futuro. Talvez deixe este país, mais uma vez, mas desta sem vontade de voltar, nem por aqueles que mais amo.

Porque afinal todos contribuimos para que tudo funcione assim...Também eu sou uma melhor pessoa fora daqui. Longe, com a saudade a agoniar-me e o mar guardado no canto mais precioso da memória.