segunda-feira, 28 de junho de 2010


Subsidio-dependência cultural

Não há como não pronunciar esta palavra sem um engasgo, um sentimento de vergonha, um incómodo qualquer que cresce e não pára de criar comichão, irritação, incompreensão. A criar uma empresa na área da cultura, que não depende directamente dos subsídios mas que vive, de alguma forma, desses mesmos subsídios. E este é um facto deprimente, frustrante, enraivecedor.

Quando é que será possível verdadeiramente acreditar que os milhares de facebookianos que se movem entre concertos, teatros e salas de exposição podem ser suficientes para alimentar a cadeia da cultura, tal como o micro-ship, inserido num rectângulo de plástico preto e com teclas à mistura se transforma de repente num bem a quem todos dão bem mais valor do que o seu verdadeiro valor.

Quem afinal pode valorizar melhor a cultura do que o seu consumidor? E quem menos o faz, para além da ditadura numérica dos espectadores e a inultrapassável sensação de estarmos a seguir um rumo que não escolhemos, a quem alguém "deu valor" no nosso lugar?

Vivemos nos tempos em que a liberdade é uma verdadeira armadilha. Porque na nossa vontade de impormos ao mundo uma forma de estar que nos é própria, que regula a nossa vida com parâmetros, pontos de referência e aspirações para o nosso futuro e o do nosso mundo, vemos essa mesma liberdade posta em causa por uma deficiência e debilitação prolongada de um mercado que, com um valor ironicamente "inestimável" é e sempre foi o primeiro a ser aniquilado em tempos de crise.

Um dia que acaba em fúria cultural.

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