
Assim tudo começa, assim pode tudo acabar. Nas nuvens sentada a ouvir Jorge Palma a declamar poesia rouca, no cimo da falésia cor de tijolo a ver o dia acontecer. O banho nu, o gelado com sabor a ousadia, a palavra que não doí quando é dita.
Viver na sólida certeza de que cada dia é uma Bola de Neve que se derrete na boca e que deixa o paladar da vida bem vivida entranhado na pele, com a ingenuidade e o prazer de haver sempre uma criança cá dentro, que grita com vontade de sorrir.
Há quem não reencontre nunca essa criança. É uma tentativa, incessante e desesperada, tentativa que é tudo e que é nada, tentativa que foi antes de ser. Que desperdício, a vida assim.
Um tributo à vontade que me reencontra entre nenúfares, lobisomens, lábios-sofás, soros maléficos, embaixadas absurdas.
Lá bem ao longe.