sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Fim de Página e João Lima



Um café-bar, com uma selecção de livros exímia, LPs raros e frases de Al Berto pintadas na parede. O Fim de Página, no Fórum Municipal de Almada, é um exemplo a seguir por todo o país! Para além dos obrigatórios "copos" disponíveis, a cultura é para todos os gostos e para todas as idades (ao contrário do que se sente muitas vezes em Lisboa e no Bairro Alto, a cultura não é só para aqueles que pertencem ao clã dos despenteados-pseudo-intelectuais-que-até-tomam-banho-todos-os-dias).

Para além da descoberta do espaço, o João Lima (guitarrista dos Orquestrada) propiciou um momento de viagem pelo tempo ao transformar o som de uma guitarra portuguesa em música electrónica, acompanhada de um vídeo (não muito compreensível...). Mais uma prova dos talentos perdidos que Portugal tem espalhados por todo o país!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Crise Literária

Já vos aconteceu passar uma daquelas fases em que nada vos convence...Nada mesmo. Depois de ler o Mulheres do Bukowsky - e de me ter obrigado a ler até ao fim o Jovem Thörless (num concurso de leitura com uns amigos, inclui-o na lista de livros já lidos e não podia deixá-lo a meio)- parece que nada entra.

Nem a linguagem poética da Inês Pedrosa no Fazes-me falta, nem a leveza e trivialidade dos livros do José Rodrigues dos Santos, nem o Dom Quixote de la Mancha (versão reduzida de 1921 que encontrei na biblioteca do meu avô: não, os livros reduzidos e de bolso não são uma novidade do nosso tempo)...

O Expiação junta-se a esta lista porque não ando a ser uma leitora diurna...À noite, ao contrário do que me acontece com os livros em francês, não consigo esquecer-me do facto de estar a ler em inglês e perco-me entre as palavras a pensar...Mas que expressão tão incrível...

Vou ter de agir rapidamente e ir à Fnac resolver o meu problema: algumas sugestões?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Não vejam o filme Expiação


Tive, desde o início, um grave problema com este filme:
- Queria ler o Atonement do Ian McEwan antes de ver o filme e como não queria comprar a versão inglesa do livro que tinha como capa a imagem do filme, atrasei o processo todo...

- Fui visitar uma grande amiga ao Algarve que eu respeitava muito até ao momento em que ela decidiu contar-me o fim da história, precisamente no momento em que eu me estava a entusiasmar verdadeiramente com a Briony e a sua família...

- Finalmente....desisti: tinha demasiada curiosidade para ir ver o filme e como ando a escrever mais leio menos e chego à cama mais cansada...Como o Ian McEwan não se chama nem Jonathan Coe nem Dan Brown,decidi que o livro iria ser lido durante a minha preciosa hora de almoço, à beira-mar.

Fui ao cinema e arrependi-me redondamente de ter passado aquelas duas horas a conspurcar a minha imaginação e a minha memória...Pareceu-me até que o Joe Wright conseguiu recriar o ambiente das 20 primeiras páginas do livro, mas conseguiu também, com a sua grande tirada bélica e demente(do Robbie e do próprio realizador), afastar-me de todas as minhas expectativas...

Não vejam o filme, leiam o livro!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O Sartre não era assim tão mau rapaz para a Simone de Beauvoir...



Só teve o primeiro orgasmo aos 39 anos, era uma atiradiça e frustrada sexual nas mãos de um homem que, para além da filosofia existencialista (uma das bíblias que sustenta a minha existência), nunca demonstrou nem afecto nem atracção sexual por ela. Ajudava o próprio marido a flirtar com raparigas mais novas e beijava mulheres pura e simplesmente para provocar.

Já não me recordo onde li tudo isto, mas estas histórias -entre as quais a narrada por Camus que afirma ter sido uma das vítimas do assédio da filósofa - têm sempre um fundo de verdade. Mas antes de as ler, as memórias visuais que tinha da Simone e do Jean Paul eram as de um casal que encontrava na distância um equilíbrio mental que lhes permitia evoluir lado a lado.

Para comemorar o centenário do nascimento de Sartre, a Gulbenkian trouxe até Lisboa a filha do casal, a biógrafa mais célebre do filósofo e um pequeno documetário intitulado Portraits Croisés que mostrava o dia-a-dia do casal, as suas rotinas, os seus silêncios. Quem imaginou o Sartre mergulhado em gargalhadas ao descobrir que o ser humano é o verdadeiro autor da sua vida enganou-se redondamente. Quem imaginou a Simone de Beauvoir feliz por se sentir subjugada enquanto mulher numa sociedade machista - e que infelizmente assim ainda hoje se mantém - também se enganou. Os dois filósofos madrugavam e passavam as manhãs a trabalhar. Corrigiam e comentavam o trabalho um do outro, sem se distraírem com o supérfluo. À tarde, saíam para tomar um café e a discussão que rapidamente se instalava à mesa transmitia um conhecimento profundo da linha de pensamento um do outro e uma vontade de chegar cada vez mais longe, um desafio comum aos dois.

Não sei o que contou mais para estas duas almas que se cruzaram um dia e não mais se separaram. Só sei que não há nada mais sagrado do que a cumplicidade imutável de um casal. Com ou sem amor.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Eu e os meus amigos Artistas Unidos


Vi-os muitas vezes, vestidos de todas as cores e feitios, a abraçar textos e personagens que me surpreenderam sempre. Por isso são meus amigos, porque eu sem eles não seria a mesma.


Ainda no espaço A Capital, fui a uma leitura de textos em que os actores estavam descontraidamente sentados, imóveis. Encheram o espaço frio daquele prédio do Bairro Alto com todos os ingredientes que tornam a imaginação na arma mais poderosa do universo. Lembro-me da divina Sylvie Rocha que com o seu ar sereno transmitia a amargurada vida de uma mulher desamparada.

Mais tarde - e com muitos lapsos de memória pelo meio - foi numa peça incluída no festival dos 100 dias que antecederam a Expo'98 que eu me cruzei com eles de novo. Interpretaram o Aos que nasceram depois de nós de Bertol Brecht.

E depois de me ausentar, voltei de novo para os seus braços com o Hamelin, no Convento das Mónicas, e a peça Fábrica de Nada, que me levou até um dos locais mais transformados e dinamizados de Lisboa nos últimos tempos, o Teatro da Malaposta. Uma peça absurda, sobre um tema bem actual, o desemprego, e sobre a existência de muitos nadas na vida que podem ser tudo ou mesmo mesmo nada de nada.

Estes meus amigos têm o dom de tornarem o meu sono mais tranquilo e a minha ânsia por pequenas explicações do sentido na vida satisfeita. Fazem-me parar e pensar, e não há nada mais íntimo no mundo do que deixarmos que algo nos absorva por completo para nos transformar, todos os dias, mais um pouco.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O Meu Lado Selvagem



Viver até ao limite para saber o que significa verdadeiramente viver. Experimentarmo-nos até à exaustão e, se inevitável, até à morte. A ânsia de Christopher Mccandless não era impulsiva, não era demente, não era fruto de uma revolta adolescente que passa com o tempo e a idade. Era somente.

Com a sabedoria de um filósofo existencialista e a liberdade de um foragido da lei, Chris renunciou a tudo menos a si próprio, na companhia dos livros que marcaram a sua vida e que a minha bem brevemente irão marcar...(Lacunas minhas, eu assumo: Jack London, Leon Tolstoi e Henry David Thoreau...)

Para além de uma viagem à mente do wanderer imortalizado por John Krakauer no livro Into the Wild, o filme faz-nos viajar sobretudo dentro das nossas opções, das nossas mágoas inapagáveis, do nosso profundo eu.

Na ausência de palavras para definir o que senti, recordo apenas o momento em que, na Montanha da Salvação,um monumento hippie, Chris pergunta a um adorável velhinho se o que o move é o amor. Quando a resposta chegou, nem tive tempo para impedir umas lágrimas pouco tímidas de saltarem dos meus olhos.

Esqueci-me do Amor ultimamente, não de amar, mas de acreditar que essa palavra contém em si aquela coisa inexplicável que nos mantém vivos e de sonhos em punho...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

JORNALISTA DESPEDIDA POR USAR FRASE DE HEGEL

Julianne Ziegler, apresentadora do programa Night Loft do canal alemão Prosieben, foi despedida por ter usado a frase "Arbeit macht frei" para incentivar um concorrente a responder a uma pergunta.

Não julgo a sensibilidade e a lei alemãs em relação a "símbolos" nazis como este, que se encontra estampado no portão de acesso ao campo de concentração de Auschwitz, entre outros. Estes anos negros da história alemã continuam a marcar a mentalidade alemã que evita a todo o custar abordar o assunto tabu...Uma atitude compreensível quando se sabe que, em cada lar alemão, os álbuns de família incluem fotografias de pessoas que voluntaria ou involuntariamente contribuiram para o regime...Tal como os nossos avós estiveram todos, de uma forma ou de outra, implicados no regime de Salazar, menos sanguinário, menos xenófobo, mas tão injusto e hípócrita quanto a ditadura de Hitler.



Sinto-me implicada nesta história...E vou contar-vos porquê...

Andava eu por Varsóvia a estudar num campus universitário com 100 estudantes oriundos de 30 países diferentes e, chegadas as férias de Natal, uma polaca escreveu um e-mail que terminava com "O trabalho liberta", para transmitir a felicidade que sentia com a chegada do fim de um trimestre de tabalho intensivo, de exames e de um dia-a-dia rotineiro e pesado.

A reacção alemã foi idêntica à deste episódio e tocou-me especialmente por ter sido encabeçada por alguém que me era próximo: a mensagem de resposta explanava agressivamente que ninguém tinha o direito de empregar aquela frase inadequadamente por respeito à memória do episódio mais trágico da humanidade: o extermínio de milhões de pessoas em campos de concentração nazis.

Nunca consegui resolver este dilema entre um moralismo alemão que é consequência de um peso de consciência justificado e a atitude de uma polaca que mostrou um grande desprendimento em relação à história trágica que o seu país sofreu (ao oongo de vários séculos aliás...), usando uma frase tão polémica para exprimir sentimentos tão positivos.

O meu coração estava demasiado perto de ambos os lados para conseguir discernir quem teria mais razão. Compreendi nesse momento que, mais importante do que o veredicto final, seria haver uma maior abertura para se debaterem estes e outros assuntos, sem atitudes radicais...

Na Alemanha, será que são as leis que vão impedir o ressurgimento de um verdadeiro movimento nazi (que aliás nunca deixou de existir)? Será que a atitude da jornalista alemã não demonstra que o peso de consciência alemão já começa a ser ultrapassado?

Não gosto de saber que uma jornalista é despedida assim sem mais nem menos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008



CRITICAR O MIGUEL SOUSA TAVARES É QUE NÃO!


A crítica literária que hoje se produz não é de confiança ou se calhar nunca o foi. Julgam-se os escritores como quem julga matemáticos, constroem-se grandes argumentos à volta do que eu não considero argumentável num livro. Falo daquela sensação intransmissível de prazer/misticismo/cumplicidade/desassossego/repugnância que um livro pode criar em nós, sem mencionar ainda os estados de alma que caracterizam o momento da leitura e que os influeciam por completo...retirar toda esta subjectividade a um livro é matá-lo. Por isso os meus críticos literários preferidos chamam-se Teresa, Rosa, Tiago, e não nomes que soam bem na praça pública...Os critérios dos críticos que criteriosamente fazem uma "repérage" em dois tempos dos erros dos autores, textos muitas vezes escritos para ontem segundo a minha experiência pessoal de jornalista de imprensa escrita, raramente tocam nestes detalhes que tornam a leitura numa das actividades mais mágicas do ser humano que, entre os seus olhos e as palavras escritas por outrém recorre, à imaginação para criar um mundo paralelo e que só a ele pertence...

Quanto ao escritor Miguel Sousa Tavares (por quem eu assumo desde já ter uma admiração por ser uma pessoa "completa" no sentido cívico e cultural do termo): eu tive o prazer de devorar o Equador em três dias, em dias de refúgio de um inverno violento em Berlim. Recordo ver o dia amanhecer da minha sala aquecida por um forno a carvão e sentir que só o meu corpo, despegado da minha mente, ali estava. Realizei a minha primeira viagem a África através deste livro que, com uma linguagem tão depurada e acções ritmadas pelos ambientes em que se encontravam as personagens, só me pareceu pecar pela caracterização das personagens Luís Bernardo e David, gémeos falsos de duas nacionalidades distintas. Para primeiro romance de um autor, o Equador é uma obra de ficção mais ou menos histórica que vale a pena ser lida...O Rio das Flores vai ficar para depois...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008


Parvos ou não, têm poucas mas boas palavras a dizer sobre este assunto...Só se pica quem...


Será que o Baden Powell se esqueceu de ensinar o que é a diferença entre uma ofensa e o sentido de humor? Ou será que o seu militarismo o impedia de pensar fora das lentes pelas quais ele via o mundo...sem ter em consideração que havia um mundo para além delas por descobrir?

E passo a citar O Director Criativo: Um campanha parva, com uma reacção parva. Parece que afinal a "Parvónia" existe mesmo...

Poema Fado da Saudade (Carlos do Carmo e Fernando Pinto do Amaral)

Aqui fica o poema de Fernando Pinto do Amaral, que Carlos do Carmo cantou no filme Fados, de Carlos Saura, e que lhe valeu o Prémio Goya para a Melhor Canção Original!
Cliquem no título deste post para ouvir a canção...


Nasce o dia na cidade, que me encanta
Na minha velha Lisboa, de outra vida
E com um nó de saudade, a garganta
Escuta um fado que se entoa à despedida…
E com um nó de saudade, a garganta
Escuta um fado que se entoa à despedida…

Foi nas tabernas de Alfama, em hora triste,
Que nasceu esta canção, o seu lamento
Na memória dos que vão tal como o vento,
O olhar de quem se ama e não desiste…
Na memória dos que vão tal como o vento,
O olhar de quem se ama e não desiste

Quando brilha a antiga chama ou sentimento,
Oiço este mar que ressoa enquanto canta
E Da Bica à Madragoa, num momento,
Volta sempre esta ansiedade da partida,
Nasce o dia na cidade que me encanta,
Da minha velha Lisboa de outra vida…


Quem vive só do passado sem motivo,
Fica preso a um destino que o invade,
Mas na alma deste fado, sempre vivo,
Cresce um canto cristalino, sem idade.
Mas na alma deste fado, sempre vivo,
Cresce um canto cristalino, sem idade.

É por isso que imagino, em liberdade,
Uma gaivota que voa, renascida,
E já nada me magoa ou desencanta
Nas ruas desta cidade amanhecida.

Mas com um nó de saudade na garganta
Escuto um fado que se entoa à despedida!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Mais dois que cá cantam

Não há nada como uma dor de causas incógnitas localizada numa parte do corpo que nem me atrevo a revelar para me deixar imóvel e com a melhor desculpa de sempre para passar o dia a ver obras cinematográficas que estavam quase caídas em esquecimento...

Cartas de Iwo Jima e Death Proof, dois ambientes magistralmente dominados por dois realizadores que estão há muito a marcar a diferença pela originalisdade e pelo grau de exigência que colocam às suas próprias obras.

Chorei num, ri noutro; reeencontrei-me com a humanidade de Eastwood através dos seus retratos humanos e reais de pessoas que descobrem a trágica condição da guerra e o valor incomensurável da vida; rendi-me à loucura e mestria de Tarantino que sem pedir licença se apoderou de todos os meus sentidos para me guiar numa viagem automobilística sem morais pré-concebidas.

E dormi, de consciência tranquila e com a esperança de acordar sem dores em partes do corpo incómodas...