domingo, 15 de janeiro de 2012

Filosofia de sofá #1


Estranhamente, há tardes de domingo que se prolongam ad eternum e nos fazem regressar a memórias literárias e a descobertas interiores que, mais dia menos dia, saltam para uma folha de papel. Como hoje.

Ao reler um curto ensaio sobre Jacques Rancière, de repente revi todas as actualizações de notícias, de um ano inteiro, à frente dos olhos. Uma reflexão sobre o rumo do nosso planeta que se desfaz em palavras e imagens de destruição e sobretudo de desigualdade. É aqui que Rancière se concentra e é nesta questão que eu consigo concentrar todas as verdadeiras preocupações que nos assolam hoje: a igualdade, a emancipação.

Sistemas em colapso, revoltas e revoluções que têm demonstrado continuamente que o ser humano tende organicamente para a paridade, destituindo valores como a riqueza e o poder e substituindo por outros que, não menos permeáveis a abusos, nos podem tornar indubitavelmente mais próximos de uma essência humana, a única crença que nos resta.

Esta essência é um todo que noz fas sentir, nos confins do Azerbeijão, que o ser humano se debate, com as mesmas armas – a sabedoria, os sentimentos, a estrutura social – numa lógica de sobrevivência que continua a definir a nossa forma de estar no mundo, tal como as estrelas continuam a orientar-nos mesmo se não as soubermos ler.

Ao ser humano e ao seu melhor amigo – o ser humano – um brinde por um futuro que se aproxime cada vez mais da sua essência.