quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008



CRITICAR O MIGUEL SOUSA TAVARES É QUE NÃO!


A crítica literária que hoje se produz não é de confiança ou se calhar nunca o foi. Julgam-se os escritores como quem julga matemáticos, constroem-se grandes argumentos à volta do que eu não considero argumentável num livro. Falo daquela sensação intransmissível de prazer/misticismo/cumplicidade/desassossego/repugnância que um livro pode criar em nós, sem mencionar ainda os estados de alma que caracterizam o momento da leitura e que os influeciam por completo...retirar toda esta subjectividade a um livro é matá-lo. Por isso os meus críticos literários preferidos chamam-se Teresa, Rosa, Tiago, e não nomes que soam bem na praça pública...Os critérios dos críticos que criteriosamente fazem uma "repérage" em dois tempos dos erros dos autores, textos muitas vezes escritos para ontem segundo a minha experiência pessoal de jornalista de imprensa escrita, raramente tocam nestes detalhes que tornam a leitura numa das actividades mais mágicas do ser humano que, entre os seus olhos e as palavras escritas por outrém recorre, à imaginação para criar um mundo paralelo e que só a ele pertence...

Quanto ao escritor Miguel Sousa Tavares (por quem eu assumo desde já ter uma admiração por ser uma pessoa "completa" no sentido cívico e cultural do termo): eu tive o prazer de devorar o Equador em três dias, em dias de refúgio de um inverno violento em Berlim. Recordo ver o dia amanhecer da minha sala aquecida por um forno a carvão e sentir que só o meu corpo, despegado da minha mente, ali estava. Realizei a minha primeira viagem a África através deste livro que, com uma linguagem tão depurada e acções ritmadas pelos ambientes em que se encontravam as personagens, só me pareceu pecar pela caracterização das personagens Luís Bernardo e David, gémeos falsos de duas nacionalidades distintas. Para primeiro romance de um autor, o Equador é uma obra de ficção mais ou menos histórica que vale a pena ser lida...O Rio das Flores vai ficar para depois...

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