quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

JORNALISTA DESPEDIDA POR USAR FRASE DE HEGEL

Julianne Ziegler, apresentadora do programa Night Loft do canal alemão Prosieben, foi despedida por ter usado a frase "Arbeit macht frei" para incentivar um concorrente a responder a uma pergunta.

Não julgo a sensibilidade e a lei alemãs em relação a "símbolos" nazis como este, que se encontra estampado no portão de acesso ao campo de concentração de Auschwitz, entre outros. Estes anos negros da história alemã continuam a marcar a mentalidade alemã que evita a todo o custar abordar o assunto tabu...Uma atitude compreensível quando se sabe que, em cada lar alemão, os álbuns de família incluem fotografias de pessoas que voluntaria ou involuntariamente contribuiram para o regime...Tal como os nossos avós estiveram todos, de uma forma ou de outra, implicados no regime de Salazar, menos sanguinário, menos xenófobo, mas tão injusto e hípócrita quanto a ditadura de Hitler.



Sinto-me implicada nesta história...E vou contar-vos porquê...

Andava eu por Varsóvia a estudar num campus universitário com 100 estudantes oriundos de 30 países diferentes e, chegadas as férias de Natal, uma polaca escreveu um e-mail que terminava com "O trabalho liberta", para transmitir a felicidade que sentia com a chegada do fim de um trimestre de tabalho intensivo, de exames e de um dia-a-dia rotineiro e pesado.

A reacção alemã foi idêntica à deste episódio e tocou-me especialmente por ter sido encabeçada por alguém que me era próximo: a mensagem de resposta explanava agressivamente que ninguém tinha o direito de empregar aquela frase inadequadamente por respeito à memória do episódio mais trágico da humanidade: o extermínio de milhões de pessoas em campos de concentração nazis.

Nunca consegui resolver este dilema entre um moralismo alemão que é consequência de um peso de consciência justificado e a atitude de uma polaca que mostrou um grande desprendimento em relação à história trágica que o seu país sofreu (ao oongo de vários séculos aliás...), usando uma frase tão polémica para exprimir sentimentos tão positivos.

O meu coração estava demasiado perto de ambos os lados para conseguir discernir quem teria mais razão. Compreendi nesse momento que, mais importante do que o veredicto final, seria haver uma maior abertura para se debaterem estes e outros assuntos, sem atitudes radicais...

Na Alemanha, será que são as leis que vão impedir o ressurgimento de um verdadeiro movimento nazi (que aliás nunca deixou de existir)? Será que a atitude da jornalista alemã não demonstra que o peso de consciência alemão já começa a ser ultrapassado?

Não gosto de saber que uma jornalista é despedida assim sem mais nem menos.

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