terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Santiago a Mil

Começou uma aventura única em Santiago.
O acaso ditou que a minha viagem tivesse lugar exactamente no momento em que está a decorrer o Santiago a Mil, o festival de teatro de Santiago, um festival ao meu ritmo, em que posso acabar cada dia com um espectáculo de teatro, uma performance, um concerto. Graças à Rosa! que comprou bilhetes para muitos dos espectáculos agora esgotados!

Na Quinta Normal - um parque popular, onde crianças e famílias tomam banho onde quer que haja uma fonte de água e onde todos vendem de tudo - uma feira popular antiga vinda da Catalúnia, com uma roda gigante onde os assentos são sanitas ou um carrosel puxado pelo pedalar de uma bicicleta.















À noite, a ida ao Teatro de la Puente, que como nome indica é um teatro numa ponte, que ainda por cima mexe! Um espectáculo de uma encenadora emergente chamado Turno, que apresentava o delírio de doentes em pós-operatório e a sua relação com a enfermeira.  E ontem, um grupo australiano especializado em desportos radicais urbanos e acrobacia apresentou uma perfomance, Concrete and No Bones, num parque de skate da cidade.




E para não deixar a cidade para trás...já posso dizer que sei o que ela é...uma cidade gigantesca que reflecte todos os contrastes de uma capital de um país em crescimento, onde a pobreza está ao lado de Jaguares e a comida tradicional chilena sofre uma verdadeira concorrência do fast food...Os mercados são um local de encontro, num deles há mais de 3000 pessoas a trabalhar, no La Vega, e outros são verdadeiros quarteirões a perder de vista que reflectem a diversidade das comunidades imigrantes que vivem neste país. Restaurantes coreanos, shwoarmas palestinos, entre muitos outros.

Tive ainda o prazer (e digo prazer porque aqui a morte é uma celebração) de visitar o cemitério com 117 hectares onde está enterrado Allende (por curiosidade, foi colocada uma cruz em frente ao seu masoléu quando ele era ateu...) e ver réplicas da Notre Dame ou do Taj Mahal, exuberâncias a que as famílias ricas chilenas chegaram. E ainda de descobrir o que são os "animitas", pessoas que, por terem morrido de forma trágica, ganham o poder de realizar milagres e por isso as suas campas enchem-se de placas e mais placas, com sonhos, desejos e pedidos.



















E por fim, a verdadeira lição de história: o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, que apresenta com testemunhos através de imagens, artigos e vídeos da época, com tudo o que se passou no Golpe de Estado de 1973 do General Pinochet contra o Salvador de Allende. Um tema quente, um tabu, que os chilenos ainda hoje não abordam com facilidade ou que, se abordam, fazem-no de forma sectária. Uma fase negra que ninguém tem ainda coragem de olhar de frente.


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