segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Meco


Uma estrela, mais uma e outra iluminam a estrada acidentada que me leva até ao íntimo dos meus desejos. Chegar.

A noite já caiu e o fumo das lareiras estagnou em frente à lua, a namorá-la num jogo de vai-e-vem sem fim. Cheiro aquele desenho com o prazer espalmado no meu rosto de quem instantaneamente é transportada para a doçura da infância, as palavras meigas, as festas ao colo da avó e as reuniões familiares aquecidas pelo fogo. Ali permaneço enquanto fecho os olhos e deixo o corpo rodar à volta de um eixo imaginário que é a única coisa que me prende ainda à terra. A ficção.

Solitária mas com a sensação de ocupar espaço e deixar a presença fluir por outros corpos, deambulo por entre as poucas portas abertas que deixam escapar palavras soltas. “É a atitude dela que me deixa assim”, “Já nada é como era”, “Olha aqui era onde eu costumava sentar-me a contar pedrinhas, uma a uma”. No final de uma noite de sábado catapulta-se o lado b da vida, as entrelinhas que só revelamos naquelas ocasiões.

Aqui o meu ser é livre. Apodera-se de mim este ambiente de paragem no tempo e voo tão longe quanto posso na memória dos vivos e dos mortos. Amanheço-me.

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