quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Que bons ares


E não é que eu tenho uma amiga mais louca do que eu??? Chamada Rosa??? Fui parar...a Buenos Aires! Acordei às 6 da manhã sem saber para onde ia, com uma mala com utilidades para todas as situações possíveis e o destino foi o aeroporto. E daí a 3 horas estava numa das capitais que mais tinha curiosidade de conhecer nesta vida! Acho que na verdade já lá estive noutras vidas, pois tudo lá tem um ambiente familiar e próximo.

O imenso Mar de Plata (que na verdade só vimos na chegada) é um rio que tem quase a cor do Tejo num dia enevoado...daí o nome. E os mais de 40 graus que sentimos na pele fez-me lembrar aquele um ou dois dias insuportáveis de calor que sentimos no verão português. Mas assim que chegámos ao centro, deparámo-nos com a situação económica em que os argentinos se encontram...um futuro que bem pode ser o português mas que verdadeiramente não desejo. Os preços mudam todos os dias, é ilegal trocar dinheiro (há uma corrida ao dólar, 10 pesos argentinos tanto podem valer 10 dólares como quinze e há notas falsas a circular), as leis mudam todos os dias, a insegurança na vida das pessoas é extrema e porquê? Porque a Argentina reucusou em tempos ser resgatada. E agora, depende apenas de si própria, à beira do abismo.

Tudo em Buenos Aires é grandioso como em Paris ou Madrid desde os edifícios que, como eles próprios dizem, não parecem europeus mas são mesmo europeus: os barcos que levavam mercadoria para a Europa enchiam-se no regresso de materiais europeus, dos candeeiros de rua às janelas art nouveau. Por isso chegar a Buenos Aires - ou Baires ou BA ou Cap Fed - é literalmente chegar à Paris da América Latina, mas com 13 milhões de habitantes, bairros intermináveis e taxis felizmente muito baratos! Mas mesmo parecendo Paris, Buenos Aires tem um lado de boémia escrito no seu apelido, principalmente nos bairros San Telmo e 
La Boca, que não é igualável em nenhuma cidade do nosso continente europeu. Os bairros mais populares, o tango, o vinho e o sangue muchachero deste povo tornam tudo verdadeiramente incomparável.

Logo no primeiro dia tivemos um jantar com uma eslovena, um francês, um colombiano e um argentino, amigos da Rosa, numa das melhores parillas de Buenos Aires, Dom Julio. Atenção: o bife argentino é mesmo delicioso e já não é importado, por isso duvidem de qualquer restaurante que se diga...argentino! 
Depois de dois dias de reconhecimento da cidade, acabámos por passar uma noite num salão de tango fora do centro, em Almagro, indicado por uma amiga de Lisboa...que sabia do que estava a falar. A Catedral mostrou-nos o verdadeiro feeling da dança, um espaço com aulas em várias salas, concerto de tango ao vivo e milongas para ficarmos de boca aberta. Sempre com a presença de Carlos Gardel.










Nos entretantos descobrimos a história deste país, com as figuras de San Martin – um dos principais libertadores de vários países da América Latina, ao lado de Simon Bolívar – a vida pos mortem de Evita Perón – cujo corpo, morto, foi guardado vários anos em casa de pessoas e que chegou a estar enterrado num cemitério em Itália! - e por fim o próprio Perón. Depois do falecimento de Evita, casou-se com uma bailarina exótica que, anos mais tarde, foi Presidente da Argentina! Uma história fascinante, da qual os argentinos se orgulham de peito cheio e com muita gestualidade italiana à mistura.











E o quanto eu voltei a sentir o espírito argentino que conheci em Portugal a fazer um programa de televisão argentino com argentinos? E o quanto eu compreendi que só os argentinos podiam ter inventado um programa como o CQC?

Foi assim esta aventura por Buenos Aires, com surpresas sempre boas, ao contrário de tudo o que nos disseram e avisaram: não fomos roubadas, não nos deram notas falsas, não estiveram sempre 40 graus – ainda assistimos ao que são as tempestades nesta cidade, com trombas de água que até levam os argentinos a fazer wind surf no meio da cidade - e cruzámo-nos com pessoas generosas. Foram bons os ares da Argentina.


Hoje é mais um dia de organização e preparação pois, agora sim, vou até ao fim do mundo: Patagónia chilena.







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