sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um vão paraíso

Partir para o desconhecido dá sempre calafrios, mas desta vez sabia que ia partir para reencontrar um ambiente muito familiar. Chama-se Valparaíso, está no fim do mundo e foi no fim do mundo que encontrei de novo o meu mundo. Ou nós em Lisboa não nos sentimos também um pouco no fim do mundo?

O oceano tem destas coisas, faz-nos perder a noção de lugar e sobretudo, faz com que o nosso tempo não seja linear. Nesta cidade, tal como em Lisboa, tudo isto é verdade. E como se não bastasse, esta cidade tem cores como Lisboa, colinas como Lisboa, elevadores (ainda hoje chamados ascensores), como em Lisboa, e um porto como em Lisboa, e marinheiros, marisco, cheiro a peixe por todo o lado. Pronto, pus-me a escrever poesia mas nem me atrevo a partilhar aqui, talvez um dia. Deixo-vos com estas imagens pois elas dizem tudo e vou calar-me.














Tenho andado a experimentar o novo conceito de tour que também existe em Lisboa, que são tours feitas por gente nova, que se pagam no final com uma gorjeta consoante as possibilidades e a satisfação de cada um e esta, em Valparaíso, levou-me a conhecer o René de León, um cantor de rua que só veio tornar mais evidente que, aqui, a saudade, a nostalgia do futuro está completamente enraízada na cidade.

Valparaíso nasceu no século XVI e foi, até à construção do Canal do Panamá, a mais importante cidade portuária da costa oeste do Pacífico, quando os barcos ainda tinham que passar pelo cabo de Magalhães para atravessar o mundo. Sobreviveu aos piores terramotos - há até sinais de evacuação em caso de tsunamis nas ruas - mas reconstruiu-se sempre conta esta forças destruidoras, com a presença de muitos ingleses, italianos e outros que deixaram os seus nomes por toda a cidade. Hoje sente-se um vazio, apesar da cidade fervilhar de pessoas, arte e música, grafitis e muitos cães (são vagabundos, mas a populaçao alimenta-os e bem!), a decadência é visível e o Património da Humanidade da UNESCO só se reconhece ao longe, nas paisagens. Admito, o meu dia acabou com uma mariscada incrível e barata com uma ameijoa chamada macha que nunca tinha visto e um belo vinho branco chileno, o primeiro!














Valparaíso foi também o meu ponto de partida para conhecer Isla Negra, onde Pablo Neruda tinha mais uma casa (e onde está enterrado, mesmo em frente ao mar, com a sua Matilde). Uma praia de rocha, bem parecida com as nossas, mas com uma grande diferença: é proibido tomar banho. A razão tem um nome: corrente de Huboldt, vem da Antártida, traz uma água gélida e pelos vistos perigosa. Mas soube tão bem sentir os meus pés molhados pelas águas do Pacífico...





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