Partir para o desconhecido dá sempre
calafrios, mas desta vez sabia que ia partir para reencontrar um
ambiente muito familiar. Chama-se Valparaíso, está no fim do mundo
e foi no fim do mundo que encontrei de novo o meu mundo. Ou nós em
Lisboa não nos sentimos também um pouco no fim do mundo?
O oceano tem destas coisas, faz-nos
perder a noção de lugar e sobretudo, faz com que o nosso tempo não
seja linear. Nesta cidade, tal como em Lisboa, tudo isto é verdade.
E como se não bastasse, esta cidade tem cores como Lisboa, colinas
como Lisboa, elevadores (ainda hoje chamados ascensores), como em
Lisboa, e um porto como em Lisboa, e marinheiros, marisco, cheiro a
peixe por todo o lado. Pronto, pus-me a escrever poesia mas nem me
atrevo a partilhar aqui, talvez um dia. Deixo-vos com estas imagens
pois elas dizem tudo e vou calar-me.
Tenho andado a experimentar o novo
conceito de tour que também existe em Lisboa, que são tours feitas
por gente nova, que se pagam no final com uma gorjeta consoante as
possibilidades e a satisfação de cada um e esta, em Valparaíso,
levou-me a conhecer o René de León, um cantor de rua que só veio
tornar mais evidente que, aqui, a saudade, a nostalgia do futuro está
completamente enraízada na cidade.
Valparaíso nasceu no século XVI e
foi, até à construção do Canal do Panamá, a mais importante
cidade portuária da costa oeste do Pacífico, quando os barcos ainda
tinham que passar pelo cabo de Magalhães para atravessar o mundo.
Sobreviveu aos piores terramotos - há até sinais de evacuação em
caso de tsunamis nas ruas - mas reconstruiu-se sempre conta esta
forças destruidoras, com a presença de muitos ingleses, italianos e
outros que deixaram os seus nomes por toda a cidade. Hoje sente-se um
vazio, apesar da cidade fervilhar de pessoas, arte e música, grafitis e muitos cães (são vagabundos, mas a populaçao alimenta-os e bem!), a
decadência é visível e o Património da Humanidade da UNESCO só
se reconhece ao longe, nas paisagens. Admito, o meu dia acabou com uma mariscada incrível e barata com uma ameijoa chamada macha que nunca tinha visto e um belo vinho branco chileno, o primeiro!
Valparaíso foi também o meu ponto de
partida para conhecer Isla Negra, onde Pablo Neruda tinha mais uma
casa (e onde está enterrado, mesmo em frente ao mar, com a sua
Matilde). Uma praia de rocha, bem parecida com as nossas, mas com uma
grande diferença: é proibido tomar banho. A razão tem um nome:
corrente de Huboldt, vem da Antártida, traz uma água gélida e
pelos vistos perigosa. Mas soube tão bem sentir os meus pés
molhados pelas águas do Pacífico...
Sem comentários:
Enviar um comentário