sábado, 1 de fevereiro de 2014

Da Província Última Esperança à Província de Magalhães

O tempo foi longo no fim do mundo. Depois dos dias alucinantes de trekking, tive um dia de tranquilidade ao ritmo de pedaladas de bicicleta em Puerto Natales, tive tempo para ver cada rua, dar a volta ao mar/lagoa que rodeiam a cidade, contactar com locais, que ou se preocupavam com a minha constipação ou com o que devia ou não comer, e ainda conhecer um pouco melhor a história das populações indígenas que aqui viveram - os espanhóis acabaram com eles - vindos da Ásia pelo estreito de Bering ou por algum pedaço de terra que se tenha despegado do continente asiático!











Foi o dia em que finalmente experimentei o Caldillo de Congrio, uma sopa de congro, que hoje é conhecida por ser o prato preferido de Pablo Neruda, que lhe dedicou um poema (aqui). Uma delícia. Dia tranquilo de preparação para o verdadeiro arrebatamento da alma humana que vivi no dia seguinte.

Não estava planeado, mas marquei uma ida à Patagónia argentina, a 400 kms de Puerto Natales, ida e volta no mesmo dia, das 6 da manhã às 23h. Só - e digo só porque é um só gigante - para passar duas horas perto do glaciar Perito Moreno. Só a viagem foi um verdadeiro prazer. Ter noção da extensão da terra neste continente, a perder de vista, com mudanças de paisagem que até agora só tinha visto na Mauritânea. A Cordilheira dos Andes a impor-se sempre, ao longe, e o campo que muda, sempre em tons castanhos. Já na Argentina, a cerca de 50 kms de El Calafate, começamos uma descida que finalmente me dá a percepção do quão alto estamos...no Chile, descemos cerca de 20 kms e aí, começámos a avistar o maior lago da Argentina, o Lago Argentino.

O Perito Moreno está inserido no Parque dos Glaciares, é apenas o 3º maior glaciar do parque mas tem cerca de 250 km2 (o tamanho de Buenos Aires) e 60 m de altura. Passeando à sua frente, ouvi os estrondos do degelo: pedras de gelo a caírem com brutalidade no mar. O Perito é tão grande que assusta, principalmente visto de baixo: estive num barco que se aproximou a 300 metros do glaciar. É uma monstruosidade de história e de vida que ali está. Senti-me tão pequena e indefesa perante tudo isto.










Seguiu-se a este longo dia uma curta passagem por Punta Arenas na Província de Magalhães. Aqui ele é rei. Domina a estátua principal da cidade - mais uma vez comprovei que ninguém sabe que ele é português... - e descobri outro pioneiro e empresário do nosso país, chamado José Nogueira, que determinou o desenvolvimento desta terra e, morrendo cedo, deixou a cargo da sua mulher, Sara Braun, todos os negócios.











Em Punta Arenas o fim do mundo é real. Toda a palavra e todo o contacto é tomado com alegria, o tempo é rude - o verão aqui passa-se entre os 5 e os 12 graus - e o vento da Antártida esbofeteia-nos a cara. Pude ver aqui uma colónia de pinguins do tipo "magalhães" que aqui passam o verão. No inverno estão no Brasil e nas Ilhas Malvinas. E Dê ou não para acreditar, o centro geográfico do Chile é a cerca de 30 kms desta cidade...porque o Chile tem uma verdadeira fatia de queijo ocupada no polo...



Nos entretantos, como tem acontecido sempre nesta viagem, ficaram muitas pessoas: um designer inglês, dois portugueses - ele a viver no Perú, a construir a maior mina de cobre do mundo, ela de Coimbra - um casal de franceses de Paris, um chileno de Santiago, o primeiro chileno com quem pude conversar sobre o Chile e perceber um pouco melhor como se vive neste país e por fim uma japonesa jornalista que torceu o pé a fazer trekking sozinha...A última semana já começou.



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